terça-feira, 22 de junho de 2010

Ao Meus Amigos


Agora eu me pego aqui sentado em uma velha poltrona a ouvir o doce som da solidão. Não que assim eu o esteja de fato, mas é que nas horas abertas o coração se abre e a cabeça vagueia simplesmente para lugares que há muito não visito, e a visão do que se fala em outros tempos, traz de volta aquele “querer sentir saudade”.

Simplesmente nos perguntamos, dois que restam de outros tantos, que nunca foram muitos, mas grandes e unidos, o que a vida está a fazer conosco?! É meu velho, só nos resta agora as fotos antigas e as lembranças amareladas que o tempo cuida com precisão cirúrgica deixar aos poucos guardadas em um velho gaveteiro cor de mogno e que só as vezes é reaberto para nos fazer rir das imagens, mas quebrar-nos por dentro pelo simples fato de não passarem disso.

E hoje, mesmo que devagarzinho as dores saram por si e são engolidas pela rotina que cada um de nós passou a levar, e já não são mais curadas pelas bebedeiras e madrugadas ao som da lua e à luz de um cigarro aceso ao vento, que rapidamente queimava pelo simples prazer de esvair-se em fumaça na tentativa vã de ver navios circundados de anéis que nunca passaram de nuvens disformes.

Agora me restam as palavras e um bolo de lágrimas que incontrolavelmente despencam do alto dos meus olhos. “Como uma velha torneira que aos poucos foi perdendo a pressão nos canos e as borrachas que vedavam o vazamento se desgastaram.” E passa a haver a impossibilidade do “cessar o pranto” já que as únicas mãos que tenho a frente são as que escrevem a vocês agora, simplesmente por não suprimir a saudade dos tempos onde pensávamos apenas se andaríamos tão mais distante amanhã, sem a mínima preocupação de retorno.

Falta-nos o passado claramente ao nos olharmos no espelho e percebermos a ausência dos cabelos que aos poucos também se vão e os poucos que restam, tingem-se de um tom embranquecido que traz o peso de uma idade que nunca desejamos, arrastando consigo uma bagagem de dores nos joelhos e juntas, ironicamente que boa parte ganhamos juntos, assim como os joelhos, que mesmos em pernas distintas tendem a permanecerem próximos.

“É que sinto falta de sair e beber indiscutivelmente sentado na beirada de uma pedra olhando pro mar com meus amigos, só pelo simples fato de que não tínhamos outra coisa se não uns aos outros e aquilo nos bastava.”

- Gael Soares

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*Créditos da imagem ao fotógrafo Português Pedro Miguel C. C. Almeida.

5 comentários:

  1. Poxa cara... que texto incrível!!! Parabéns cara!

    Tô ão emocionado que vou te pagar uma cerveja no cantinho da filosofia!

    :-)

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  2. ...
    muito obrigado por isso, meu velho, cê falou o que muitos de nós não consegeum nem tentar falar.

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  3. Carol: Juro que chorei, por tudo, por todas as histórias,tudo que tanta coisa significava pra gente!
    lindo texto

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  4. Não aplaudo por que não me ouvirias e por que essas mesmas palmas são em demasia usadas para as coisas mais mundanas, e mesmo para o escárnio. Faço apenas silêncio para que saibas que tocaste recônditos que eu julgava hoje insondáveis de algo que acredito ser uma alma, trazendo de volta o fio da vida, agora vivida,lembrança, tecendo para a hora derradeira nosso etéreo manto.

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