
Agora eu me pego aqui sentado em uma velha poltrona a ouvir o doce som da solidão. Não que assim eu o esteja de fato, mas é que nas horas abertas o coração se abre e a cabeça vagueia simplesmente para lugares que há muito não visito, e a visão do que se fala em outros tempos, traz de volta aquele “querer sentir saudade”.
Simplesmente nos perguntamos, dois que restam de outros tantos, que nunca foram muitos, mas grandes e unidos, o que a vida está a fazer conosco?! É meu velho, só nos resta agora as fotos antigas e as lembranças amareladas que o tempo cuida com precisão cirúrgica deixar aos poucos guardadas em um velho gaveteiro cor de mogno e que só as vezes é reaberto para nos fazer rir das imagens, mas quebrar-nos por dentro pelo simples fato de não passarem disso.
E hoje, mesmo que devagarzinho as dores saram por si e são engolidas pela rotina que cada um de nós passou a levar, e já não são mais curadas pelas bebedeiras e madrugadas ao som da lua e à luz de um cigarro aceso ao vento, que rapidamente queimava pelo simples prazer de esvair-se em fumaça na tentativa vã de ver navios circundados de anéis que nunca passaram de nuvens disformes.
Agora me restam as palavras e um bolo de lágrimas que incontrolavelmente despencam do alto dos meus olhos. “Como uma velha torneira que aos poucos foi perdendo a pressão nos canos e as borrachas que vedavam o vazamento se desgastaram.” E passa a haver a impossibilidade do “cessar o pranto” já que as únicas mãos que tenho a frente são as que escrevem a vocês agora, simplesmente por não suprimir a saudade dos tempos onde pensávamos apenas se andaríamos tão mais distante amanhã, sem a mínima preocupação de retorno.
Falta-nos o passado claramente ao nos olharmos no espelho e percebermos a ausência dos cabelos que aos poucos também se vão e os poucos que restam, tingem-se de um tom embranquecido que traz o peso de uma idade que nunca desejamos, arrastando consigo uma bagagem de dores nos joelhos e juntas, ironicamente que boa parte ganhamos juntos, assim como os joelhos, que mesmos em pernas distintas tendem a permanecerem próximos.
“É que sinto falta de sair e beber indiscutivelmente sentado na beirada de uma pedra olhando pro mar com meus amigos, só pelo simples fato de que não tínhamos outra coisa se não uns aos outros e aquilo nos bastava.”
- Gael Soares
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*Créditos da imagem ao fotógrafo Português Pedro Miguel C. C. Almeida.
Poxa cara... que texto incrível!!! Parabéns cara!
ResponderExcluirTô ão emocionado que vou te pagar uma cerveja no cantinho da filosofia!
:-)
...
ResponderExcluirmuito obrigado por isso, meu velho, cê falou o que muitos de nós não consegeum nem tentar falar.
Carol: Juro que chorei, por tudo, por todas as histórias,tudo que tanta coisa significava pra gente!
ResponderExcluirlindo texto
falou tudo...
ResponderExcluir=B
Não aplaudo por que não me ouvirias e por que essas mesmas palmas são em demasia usadas para as coisas mais mundanas, e mesmo para o escárnio. Faço apenas silêncio para que saibas que tocaste recônditos que eu julgava hoje insondáveis de algo que acredito ser uma alma, trazendo de volta o fio da vida, agora vivida,lembrança, tecendo para a hora derradeira nosso etéreo manto.
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