sábado, 30 de julho de 2011

Crônicas Inacabadas #1


O sopro do Jazz do Miles Davis Quintet range agudo como há tempos não soava no corredor da casa (Se é que soou assim algum dia). Ao estilo Bukowisk a garrafa ao lado na mesa, e o cigarro preparado com precisão médica esvai-se a cada letra escrita. Mas o que realmente é interessante é o motivo e o assunto escrito. Nada. Um nada tão vazio que caberia tudo dentro dele, incluindo a ansiedade que aumenta a cada minuto.

As conversas paralelas entre uma tragada e outra, um gole e outro, uma linha e outra, desfazem e refazem a constante inda e vinda do foco para escrever sobre algo que em lampejos se perde completamente e é substituído pela vontade de apagar tudo o que já foi escrito. Enfim gosto do som do baixo, é como uma cantiga quieta que faz você mesmo que sem perceber, mova o pé num ritmo constante.

A noite longa na solidão de casa faz você se perguntar várias coisas, mas o que mais me instiga é não saber o que me perguntar, então, o que falta ser respondido?

Não faço idéia do que colocar pra terminar, acho que o titulo?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Despertar De Opostos


Acordo inconstante como o vento que sopra inexistente entre as paredes do quarto onde dormia. O som perturbador do silencio que se abriga ali, obriga-me a acordar como se o mundo corresse vagarosamente em direção ao nada, buscando satisfazer sua falta de espaço em abrigar todos os lençóis amassados em noites mal dormidas. É de fato espantoso todo o caminho que tenho a percorrer até os braços da cama para que meus pés toquem o chão, mesmo podendo voar até o outro lado das cobertas, mesmo estando eu sonhando uma inexplicável cena de queda sem controle e acorde como se não mais existisse o ar.

Acorde-me, mantenha-me desperto nessa cadeira onde posso recostar meus pés confortavelmente e deliciar-me com esse cochilo inacabado. Não é que esteja louco, é que apenas preciso mostrar pra você que não necessito de sanidade, ao menos não dessa vez, não mais que de um cigarro e uma garrafa de bebida quente, não mais que o toque perturbador do relógio para que mais uma vez veja que mesmo acordado, toda a lucidez do real permaneça tão conturbada como o sonho que tive enquanto cochilava no banco do trem.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Metade – Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De Volta Em Crônicas E Movimentos De Peões

Você então se pega a escutar um velho disco, um velho e bom disco que mesmo com seu som antigo, ainda trás consigo todo o charme de uma melodia indiscutivelmente “incomparável” a qualquer outra música.

Entre um gole e outro, um trago no cachimbo de briar, que levemente queima posto em descanso ao lado da vitrola, trazendo consigo, junto ao cheiro forte do turco selvagem e da bebida destilada que ali se põe no vidro arredondado, reflexões sobre as situações mais comuns que se mostram perante a vida de um homem, este no caso o que vos fala.

Em outros tempos minha linha de raciocínio implicaria que nenhuma dessas situações mereceriam tamanha dedicação reflexiva, mas hoje não. Ao menos não depois de tantos percalços e superações alcançadas, problemas insolúveis que hoje facilmente seriam resolvidos, e alegrias inabaláveis que hoje são facilmente dispensáveis pros planos “maduros” que se fazem presentes.

Então vem a dúvida do “por que então se preocupar com isso?!”

Por que essas agora, são as reflexões e problemas da minha época, por que de certa forma, constato eu nesse exato momento, que não temos uma vida apenas, não no sentido de haver uma vida pós morte, ou algo nessa linha, mas sim na situação de que homens, no sentido amplo da palavra, vivem várias vidas no intervalo de apenas uma, entretanto poucos percebem isso, ou não. Mas quem se importa!?

Se pesa em um futuro, se o mesmo seguirá fielmente os planos traçados, ou se fugirá novamente, muitas vezes de forma absurda como já fugiu dos antigos rascunhos, e já não mais se vê na situação de “ser astronauta, médico ou ator de filme de bang-bang”. Mas o que na verdade surge de fato, é a dúvida crucial que move o intelecto mesmo que não intencionalmente, haverá um!? De fato, haverá um futuro!?

Pragmatismo da minha parte talvez, claro que não adianta focar horas da vida em reflexões sobre esse assunto, até porque convenhamos, pensar demais sobre isso impede de percebermos o que, e como agir no agora. Seria muito mais viável, tornar o presente um movimento linear de um peão, que possivelmente será o ponto inicial para um “xeque-mate” jogadas a frente.

Gostei disso, um xeque-mate por mais importante e objetivado que seja, sempre partiu de um movimento inicial e linear de um simples peão.