
“Mais uma vez sentado sob as pernas a pensar sobre o que nos leva a ter sentimentos incompreendidos por nós mesmos, e serem justa e simplesmente esses os que não escolhemos como certos e que por sua vez são óbvias escolhas arriscadas demais que tendem sempre a um erro posterior que na sua maioria dedicamos nossas maiores expectativas.”
Pergunto-me se a idade bate apenas nas pernas cansadas após uma breve caminhada que há tempos não era quase nada, mas que hoje me faz refletir o tal momento em que fiquei velho. Mas que custa uma velhice de corpo, já que não temos razão para preocupar-nos com algo inevitável a todos nós?! De fato o que me preocupa é a velhice da alma. Temo uma velhice em que a maturidade consumiu por completo toda aquela vivacidade infantil que tive um dia. Não falo só por mim, minha reflexão não teve como foco apenas o Eu, e sim toda uma série de fatos que me mostraram o quanto o tempo tem trabalhado minuciosamente na modificação do estado emocional e etário-psicológico das pessoas. Meus bons amigos, que ainda mantenho contato, mostram-me perfeitamente essa condição.
Mas bem, não é sobre velhice que iria falar, até porque, brincadeiras a parte, nunca temi muito essa fase, e até aguardo de fato com certa vontade que ela chegue, de preferência com os planos que tracei até ela devidamente realizados. Porém o que tratei entre as paredes sentimento e razão que eu mantenho erguidas em mim, foi o fato de me ver em situações que mostram o quanto os sentimentos tornaram-se alheios as reações que tempos atrás tínhamos quando nos deparávamos com os mesmos. Falo por mais outros, por saber que não sou apenas eu a viver tais circunstâncias. Hoje, em situações claras, vejo que todas as minhas “táticas”, mesmo que sempre falhas, já nem pra isso: Falhar, servem, e aquele velho espírito de “se jogar”, do “jogador compulsivo” que residia aqui, teme até mesmo uma pacata partida de damas em um domingo de sol no parque.
É como se as esperanças a tanto repudiadas e negadas fervorosamente em artigos universitários baseados em obras de outros, agora tomassem conta. Pelo fato de se ver abalado por coisas tolas, e manter a fé, em algo ilógico que aos poucos só nos tira mais ainda a esperança, e deixa como preenchimento a frustração, como fala Sponville em suas obras.
E mais uma vez fugindo do tema, volto a falar do que é pra ser falado, ou seja, a questão de não escolha que nos mantém aprisionados em um monde de dúvidas e angústias pelo: E agora?! Como vai ser daqui pra frente?! Espancando nossa face claramente com a mensagem: “Você é um ser munido de racionalidade total, completamente desperdiçada em escolhas erradas que voltam-se simplesmente aos sentimentos que você supõem levarem você a uma vida feliz”.
Mas e se de fato esses forem os Tijolos Amarelos que mostram o caminho para a Eudaimonia¹?! Resta-nos o que?! Escolher entre a frustração do agora racional esperando uma possível solução futura do aprender amar?! Ou a jogatina arriscada do sentir irracional esperando a não queda do cavalo que nos conduz nesse caminho?!
“Jogar todas as fichas é o risco do ganhar o prêmio máximo, contrapondo-se ao perder tudo e entregar-se as dívidas do cassino, sendo que a cobrança é feita duramente pela vida que seguirá seu curso imutável.”
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¹Eudaimonia: Felicidade