terça-feira, 22 de junho de 2010

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos


Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua ultima quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

- Pau d’ Arco, 1901.

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Há dias vinha lembrando os meus tempos de colégio, e de um professor de literatura que tive nesta época. Conseqüentemente lembrei-me também das coisas que escrevia e do dia em que o dito professor, ao deparar-se com alguns dos meus textos, indicou-me a leitura das obras de Augusto dos Anjos.

Surge-me então o motivo de tal indicação. Ao procurar alguns poemas do autor, percebi a tamanha semelhança que existia entre nossos escritos, obviamente em níveis completamente distintos de normas gramaticais. Mas foi na melancolia literária aplicada nos versos do autor simbolista/parnasiano, que passei a encontrar a inspiração posterior que tanto veio a me influenciar.

E ao passar ontem por um sebo de um velho conhecido, encontrei empoeirado em uma das prateleiras “Eu E Outras Poesias”, obra publicada em 1920 que é a coletânea dos poemas do autor paraibano, onde se encontra um dos mais belos poemas que já ouvi sendo recitado por alguém, e que resolvi colocá-lo aqui.

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*Imagem de uma Quimera, figura mitológica grega que representa um ser com cabeça e corpo de leão, além de duas outras cabeças, uma de dragão e outra de cabra.

Mais Monstruário aqui.

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