
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua ultima quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
- Pau d’ Arco, 1901.
_____
Há dias vinha lembrando os meus tempos de colégio, e de um professor de literatura que tive nesta época. Conseqüentemente lembrei-me também das coisas que escrevia e do dia em que o dito professor, ao deparar-se com alguns dos meus textos, indicou-me a leitura das obras de Augusto dos Anjos.
Surge-me então o motivo de tal indicação. Ao procurar alguns poemas do autor, percebi a tamanha semelhança que existia entre nossos escritos, obviamente em níveis completamente distintos de normas gramaticais. Mas foi na melancolia literária aplicada nos versos do autor simbolista/parnasiano, que passei a encontrar a inspiração posterior que tanto veio a me influenciar.
E ao passar ontem por um sebo de um velho conhecido, encontrei empoeirado em uma das prateleiras “Eu E Outras Poesias”, obra publicada em 1920 que é a coletânea dos poemas do autor paraibano, onde se encontra um dos mais belos poemas que já ouvi sendo recitado por alguém, e que resolvi colocá-lo aqui.
_____
*Imagem de uma Quimera, figura mitológica grega que representa um ser com cabeça e corpo de leão, além de duas outras cabeças, uma de dragão e outra de cabra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário