segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E entre a garrafa meio cheia, e o copo quase vazio, a solidão era quebrada apenas pela voz tocada em notas e sons roucos e distorcidos.

A aflição do estar só era aos poucos suprimida pelo sono, e pela pilha de papeis sobre a mesa à espera de uma coragem que não chegava, mas que pouco importava diante do real motivo de não dedicar-me as palavras miúdas e do trabalho cansativo de obrigações que acho cada vez mais incondicionais ao que me vi a fazer no passado.

A dor sim, essa era o ponto que tanto oscilava e remoia-se dentro do meu eu enquanto ardia a garganta ao ser tocada pelo malte envelhecido. Era ela, essa dor, que me impedia de pensar, e mesmo na obrigação, mantinha-me mais uma noite em claro, o que me renderia certamente olhos fundos e lagrimas secas na manhã seguinte.

A solidão não doía pelo agora, não apenas por ele, mas martelava e perfurava com a força de uma vida que pendia sobre a faca para que até o talo de sua lâmina alcançasse o mais profundo dos cantos do que já nem achei que existia. Era uma dor que chorava por saber ser real, pelo saber que em outros tempos já estivera ali, presente, e que agora insistia em voltar e se mostrar com sorriso torto de quem embriaga-se no sofrimento alheio.

Seca mais um copo, vai-se mais da garrafa, mas nada suficiente para afogar-me, não ainda, não desta vez, mesmo que a dúvida sobre o querer persista e fique acenando e gritando no fundo pensante.

Ouço cada palavra, é como se em cada letra diferente, com ritmos diferentes, estivesse presente o mesmo assunto, a mesma tecla batida, o mesmo acorde desafinado que mancha o papel pautado de notas acertadas.

[...]

“Ponho meu sapato novo e vou passear sozinho, como der, eu vou até a beira, besteira qualquer”

- Los Hermanos.

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